sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sentou ao meu lado hoje a tarde no trem. Só queria ter tirado uma foto.. Só uma foto...Mas pra quê? Já há tantas dela, não é? Mais famosa que a Madonna e mais odiada que um demônio. Mas aquela seria “a foto” que talvez fizesse você sentir o que eu senti, talvez mostrasse pra certas pessoas, habitantes de bolhas flutuantes, a realidade porca por falta de opção à qual se submete essa moça. Que dorme cansada de fome e de sono, provavelmente no banco que você senta pra esperar um taxi, ela só queria um pedaço dessa riqueza que é enorme. Não tem medo de mostro, porque mora com a morte. Se está viva até hoje só contou com a sorte. Ou azar, sei lá... Melhor seria morrer? Melhor seria lutar? A questão é de Hamlet, mas aqui a pergunta não é drama teatral. Nem tragédia filosófica. Nem se nasce e já se responde; se vai ou se fica, se luta ou já tá longe. Pensando melhor, uma foto de nada serviria, não salvaria ninguém, não ajudaria ninguém. Seria catártico, seria bonito pra um amante da arte sensível, mas tantas fotos já estão aí.. desnecessariamente, pois você pode encontrar a tal a qualquer momento, nem precisa agendar, é só aparecer lá no centro da cidade, nas valas, nos becos, na periferia das periferias... Só não finja que não a vê, e nem que não a ouve, por favor, isso só piora sua doença. É tragédia, é disparo, é notícia.. . o mostro da moda...Mas ela respira... No vídeo ela tem cara de vilã de novela, mas aqui ela vive... e se chama Miséria! Essa condenada a existir respira, fala, grita, pede, pensa... Mas nem sonha em comer tão bem quanto meu cachorro!

5 comentários:

Marcela Brunelli disse...

Acho que a miséria realmente produziu efeitos catárticos em vc. Se deixar tocar por sensações é mágico e exemplar. O problema maior é: O que fazer depois que fomos tocados?

Bjinhos, querida. Saudades das conversas..
=)

=**

Unknown disse...

catartico... palavra nova pro meu vocabulario

Wagner Miranda disse...

Lembrei de uma professora de uma matéria de fotografia que uma vez disse que o Sebastião Salgado chegou em um lugar bem pobre e já foi sacando a câmera para fotografar aquela miséria toda, como podemos ver em "Êxodos". Só que dessa vez foi diferente. Não permitiram que ele fotografasse e ele encarou a pessoa e soltou a pérola "Você sabe com quem está falando?"
Obviamente, o sujeito foi convidado a se retirar da comunidade sem disparar seu famoso flash e sem se dar conta, acabou mostrando que o que o trabalho que ele iniciou com uma finalidade de conscientização virou embrutecimento, seja por uma mera questão de sobrevivência no mercado ou simplesmente por achar que a miséria torna as pessoas passivas: não têm um pedaço de pão amanhecido para comer mas são capazes de sustentar sua aclamada atividade profisisonal.

...

Anônimo disse...

"as pessoas são ilhas", eu dizer 'o homem',mas, sempre tenho a sensação que isso de certa forma limita a idéia de todos na mente dos outros.

sim, "as pessoas são ilhas" e por isso elas podem até até terem momentos de consciencia dos outros, mas isso se bloqueia, se apaga, se doa pra criança esperança, as pessoas se fecham, para suportarem não poderem ou não fazerem nada.

interessante seu texto, moça.


:*

Márcio

EuCor Reprime Brasil disse...

O remorso crónico, e com isto todos os moralistas estão de acordo